janeiro 18, 2007

Pedaços que se encontram

Enquanto leio um livro ele torna-se a minha vida. É lá que guardo papeis e notas que preciso de não perder e que, invariavelmente, perco até que os humores me levem de volta àquelas páginas. Como já vou tendo uma idade considerável (aos 26 anos já não sou um bebé), começo a ter a minha biografia aleatoriamente disseminada pela minha bibliografia.

Não raras vezes, quando releio um livro que me marcou em determinada circunstância, encontro restos dessa mesma circuntância perdidos por entre as letras que vou recordando. E lembro-me de detalhes mínimos da outra que era eu e então lia estas mesmas linhas. E descubro outro eu de outros tempos em que este livro tinha outro sentido.

janeiro 11, 2007

Expresso da Madrugada

O cigarro cravado antes de sair consome-te lentamente o álcool do sangue. Lá dentro já é ontem, em casa espera-nos o amanhã, mas nós resolvemos prolongar o limbo. A madrugada gélida e ribeirinha tem o sabor de um bálsamo de mentol que nos acalma a pele e desperta os sentidos. Junto ao rio, a manhã nasce ao ritmo da batida que parece fundir-se com a pálida agitação das águas espelhadas. Lá dentro há outro mundo onde gosto de pensar que eu não fui eu e tu não foste tu. Não falámos, o que para nós é sinónimo da distância que nos separava dos nossos corpos.

Agora, ali, na confusão embriagada da noite que acaba e do dia que começa decides que a tua noite e o teu dia não têm fronteira. Os passos não são pensados, mas o destino é certo: Expresso. Sem o saco que contém um Mundo, nem a noite acaba nem o dia começa.

Já foram tantas as noites e os dias que acabaram e começaram assim. Instantes que são nossos, partilhando as mais pérfidas conspirações que sabemos existirem, falando da Verdade como objecto de facto e discutindo a forma difusa dos nossos futuros que teimam em não chegar. E lembro-me daquele dia em que caminhámos com pés que não eram nossos por uma Lisboa que dormia enquanto nós vivemos aquele limbo dourado das manhãs de Setembro. Tomámos o pequeno-almoço numa torrente mordaz de críticas ao que liamos.

Lembro-me de uma noite esperaste por mim, para depois, logo depois, me veres ser levada. E de me ouvires e de comigo te rires de tudo o que se passou. Lembro-me de ficarmos a olhar para os combóios enquanto sonhámos (não sonhamos ainda?) em sair daqui, em procurar um Mundo que nos entendesse, onde pudéssemos ser tudo o que queremos e sabemos que podemos ser.

E tantas, tantas vezes falámos neste blog. Sem lhe darmos nome. Apenas falando de um espaço onde partilhássemos as nossas conversas, onde as incentivássemos. Sempre por caminhos diferentes, acabamos sempre por nos entender. Mas é a diversidade dos caminhos que dá cor às nossas conversas, às nossas manhãs.

E espero que ao nosso blog.